quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Minha história com os animais (or empty cunt mouth)



Olhando para suas mãos molhadas de sua própria excitação preparava-se para dormir mais uma noite, sozinha. O fato de estar sozinha era completamente irrelevante, não fosse este problema. Respirar e gozar com alguém. Respirar porque lhe faltava o ar de uma forma não mortal, mas de certa forma que lhe garantia uma sobrevida e dias por mês até certas felicidades simples. Mas lhe faltava um segundo respirar, aquele que é reflexo de um pulmão que se espelha em outro. Ainda que doente. Ainda que esfumaçado. Pulmões precisam de espelho.
Tentava inspirar profundamente o ar e muitas vezes acabava levemente inebriada com o cheiro do seu próprio sexo. Jamais tivera controle sobre seus desejos e não seria diferente agora. Mas tinha aprendido a ter um ligeiro controle sobre suas emoções, o que lhe permitiu sentir tudo mais intensamente, o que acabava por tornar cada conversa mais excitante, cada subentendido um suspiro mudo que buscava um eco no vazio.
Minha ansiedade ainda vai me matar - pensava ela enquanto rolava de um lado para o outro da cama semi vestida, inocentemente sexy, suja de tinta e com os cabelos desgrenhados que faziam nós e desfaziam seus próprios nós sempre que buscavam se enroscar com outros longos cabelos em seus travesseiros.
Mas não havia sido a ansiedade que a salvara das suas paixões mais destrutivas? Não seria a ansiedade uma salvaguarda de sua sanidade? Era paradoxo, como tudo nela, como o todo dela, como cada parte dela poderia ser tese e antítese de si mesma.
Amadurecera tanto nos últimos meses, nos últimos anos que olhava para o seu passado com ares de sabedoria e com uma risada safada no rosto. Safada porque era assim que era. A parte mais sensível de seu corpo sempre seria sua vagina e parecia um tanto entediante ter que aposentar temporariamente este sentido, por mais que fosse por opção própria. Brincava de tato no seu tato quase todos os dias. E gozava profundamente. Mas daí terminava e buscava aquela respiração profunda. E nada. Girava, girava na cama. Suava frio, suava quente, alguma hora dormiria, ou não dormiria e levantaria para um novo dia, dias sempre diferentes e cheios de magias e novas experiências. Entendia que era feliz, mas era um feliz pequeno. Era um feliz para os olhos, era um feliz para os ouvidos, era um feliz até para parte de seu paladar, que adorava doces, mas sentia uma falta enorme do gosto especial de um pau diariamente. E salivava pensando em conversas perdidas em noites de encanto. A lascívia sempre conquistava a sua imaginação, mais do que qualquer jura de amor. Isto porque amar ela amava. Amava a si mesma e suas letras, suas tintas e seu pequeno gato persa. Amava um ou outro amigo e tinha um certo tipo diferente de amor por sua família. Mas o seu eixo, sua vagina, amava um pau. E sempre seria uma meia felicidade, ainda que tudo estivesse perfeitamente bem, enquanto não pudesse encontrar um pau para preenchê-la. E não um a cada noite, ela era livre e poderia ser de vários, mas sua vagina queria exclusividade, queria conhecer profundamente um certo pau por muito tempo, até que se cansasse dele ou que ele esquecesse o caminho de sua entrada pela flacidez do tempo. E sempre seria uma meia felicidade porque sua boca era meio sorriso, entreaberta. Querendo cobrir um falo, mas querendo de um tanto que a deixava meio sem fome. Chega uma hora na vida de uma boca assumidamente safada que a comida perde a graça quando se quer passar manhãs e noites saboreando porra, engolindo e sorrindo feliz com os lábios gozados e vermelhos de tanta pressão.
Era uma noite, mais uma noite, iria dormir molhada, molhadíssima, era exímia em seu próprio prazer. Mas com meio sorriso, meia respiração e uma vagina infeliz.
Não era nada disso, nem era zoofilia, meu desejo por animais era outro. Mas acredite, ela estava feliz. Só que transbordava lascividade e não havia ninguém aqui para consumir esse desejo. Mas estava feliz. Sonhando com animais exóticos e fodas irrealizáveis, destas de que são feitas os sonhos eróticos de quem não tem medo de passar a noite em gozo. Era feliz. Mas queria um pau. Porém era feliz.

sábado, 3 de setembro de 2011

The same old story...

24 primaveras num mundo dominado pela barbárie onde as estações há muito não existem.
E dentro disso? Muitas vidas!
Infinitas se você acredita no mundo das possibilidades...
Finitas e intensas todas que eu posso me lembrar.
Mas com alguns vícios. Algumas histórias recorrentes e alguns hábitos autodestrutivos que não abandonamos com facilidade.

(escrito no início de 2010, estou publicando meus rascunhos)

Da paixão e outros vícios...

Nossa insanidade repousa dentro de garrafas de cerveja e conversas desconexas, sou movida pelos meus vícios, tenho controle sobre todos eles, menos sobre a paixão que se esconde, quieta, entre olhos que muitas vezes nunca vi e me ataca de tal forma que tira me fôlego e me enche de angústia. Invariavelmente.
Objetivava, com uma urgência sufocante, escrever linhas sem fim que me provassem que deve-se evitar a todo custo qualquer mergulho nessas terras insólitas.

(rascunho inacabado, escrito em 2010)

Pequeno bloco de luz e nebilna.

Aquelas paredes ornamentadas em três cores apenas pulsavam olhos que nos admiravam, ainda que em reprovação. Uma reprovação silenciosa única dos olhos planos e fixos encrustados na realidade por rolos e pincéis.
Os faróis eram fraca luz perante o espectro luminoso e artificial que era lançado sobre nós, por incoerência, vindo de baixo. Buzinas e motores. Vozes em algazarra. Músicas e batidas.
O ar gelado transpassando as fibras e tramas das roupas de nós turistas incautos de um mundo imprevisível e adolescente.
Fez-se silêncio. Silêncio cortado pelo calor inóspito: de baixo. De dentro. Do seu corpo. Do meu corpo. De nossos corpos. Colados.
Exalando aromas inesperados, tocando cada parte de meus sentidos. Com sua pele, mãos, braços, pelos e encantos. Despigmentados. Por um momento eterno. Plenos.