domingo, 22 de junho de 2008

Escalada

Com pés descalços, sem proteção, sem segurança, unhas se quebrando a cada pedra vencida. Um frio violento me atinge enquanto subo a montanha e estou desprotegida. Não carrego nada além do meu coração despedaçado, minhas lembranças perturbadoras e meus sonhos de mudança.
Estou nessa escalada há meses. Na verdade, estou escalando durante toda minha vida, mas nesses últimos quatro meses tenho me dedicado esclusivamente a escalada. E sozinha, me disseram que é errado escalar sozinha. Mas tive que fazê-lo, para conhecer a verdade sobre escalar.
Muitos processos se deram nessa escalada:
- Elegi um ponto de apoio, mas é um ponto de apoio fraco, que eu posso contar remotamente mas, se eu cair, não vai me segurar, ele não estará lá de verdade para mim.
- Definhei, pouco a pouco, devido ao excesso de esforço e a alimentação escassa. Já há mais de duas semanas que não tenho acesso a alimentação. E isso não me importa mais, é algo que carrego comigo, superei a fome depois de perder 25kg.
- Desaprendi a chorar, ainda que há pouco mais de 36 horas eu tenha desabado, não consigo mais chorar porque não tenho ninguém para secar minhas lágrimas. É isso, eu estou infinitamente triste, meus olhos enchem d'água, caem duas lágrimas, e eu sigo em frente, não posso me dar ao luxo de perder a visão.
- Me arrependi de muitas coisas, tantas que eu nem posso enumerar, de escolhas, ações, atitudes, pessoas, decisões... ainda que eu reconheça que todos meus erros me auxiliaram nesta subida.
- Perdi o propósito.
Me perguntem, o que farei quando chegar lá em cima?
( )
Com sorte me atirar o fundo do poço.
Essa jornada parou de fazer dentido há tempos e tudo que eu queria é ter meu coração de volta. Isso e nada mais.