domingo, 27 de março de 2011

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Antes de te perceber humano me pareceu em estampa colorida, colorida, colorida. Engraçado, para alguém que é feito de escalas de cinza. Não notei, em ti, nada além de uma silhueta musical, de uma banda qualquer que já terminou há tempos. Fora de seu tempo, deslocado.

Algo entre o produto da tua mente e esse deslocamento despertaram um encanto, um encanto que atingiu timidamente um coração e uma mente cheia de amores vazios. Tão distante quanto meus amores geográficos, ainda que estivesse ao meu lado, no plano do inatingível, onde coloca-te.

Era um quadro tão incerto, tão ousado. O quadro que sonhei pintar, com meus pincéis e dedos, saliva e suor de formas que ainda não pude descobrir.

Depois disso vieram os seus olhos, um azul infinito (preciso retratá-los, mas temo onfedê-lo, entre tantos auto retratos que pintaste não seria uma ofensa terrível tentar reconstruí-lo, capturá-lo e moldá-lo com minhas próprias e inexperientes mãos de uma pseudo-artista plástica, ainda que palavrista quase invulgar?)

O azul me encantou, mas foi o mistério que me fez ficar. O mistério e o desafio. Sabes, tu te enquadras naquele ideal inatingível, com tanta tristeza perdida em um sorriso, tanto medo e dias partidos, dias perdidos. Cada parte de mim anseia por poder colar as peças, rearanjá-las. Fazer contigo novos e novos desenhos de mundo.

Se, para o mundo, sempre constituíremos parte integrante, e por isso isolada, deste mundo que é cinza demais e pesa sobre nossas costas, que para nós possamos compor com teu azul, com meu verde (e com algumas centenas de pelos de gato) um novo horizonte de ilusões em technicolor.

Sabes, sonho conosco todas as noites e, nos meus sonhos, somos muito felizes. Juntos.


Com nossas caixinhas de Marlboros contrastantes, cravos da índia. E nossas dores, que fiquem no passado.

domingo, 6 de março de 2011

Se eu pudesse entrar na sua vida...

Multiplicidade de dessintonias, de tempo espaço e vontades.Atraído por um arco-íris que esconde um universo de constrastes acromáticos binariamente conectou seus universos. Um furor revolucionário a fizera esquivar de suas investidas, naquele tempo onde as coisas eram tão simples e tão etéreas. Aquele tempo que passou e junto com eles tudo que estava a sua volta.
Sempre esteve à margem de sua vida, uma atração incomum. Discordava de tantas coisas que ele defendia veementemente, ao mesmo tempo que se sentia magnetizada por elas. Um revolucionário sem revolução, sem organização, sem ideologias, ainda que, de fato, fosse inundado por elas. Poucas conversas, mas tão profícuas que se tornaram inesquecíveis.

Estavam tão perto e tão longe, uma proximidade que não possibilitava que o toque se realizasse. Não que não houvesse desejo, só imperava a dessintonia. Quando o furor revolucionário a abandonou e os questionamentos existenciais caíram em tempestade do século, ela olhou para ele novamente com olhos de semelhantes. Semelhantes em questionamentos e em questionamentos aos questionadores e às questões. Eram feitos da mesma matéria sem cor, ainda que inexplicavelmente brilhantes. Brilho daqueles que ofusca os olhos de quem se aproxima e os torna sempre seres à margem da sociedade e de qualquer grupo estabelecido, mesmo aqueles outros que também estão à margem. Mas o desejo dele estava dominado por ouro amor, outra realidade. Seria nunca mais novamente, uma parte da história que sempre haveria de não ser. Eles tentaram, mas não seria correto. Ele recuou. Ela calou-se. Hiato.

Partiu para longe, sua terra natal tão distante de seu coração e de sua verdade, como eram para ela agora todos os lugares. Eterna alma sem lar. A vida, os amores e os desejos seguiam, como seguem e são carregados pela sua intensa correnteza. Vez por outra ela espiava a vida dele, mas espiava com olhos curiosos. Desejava sua felicidade, claro que desejava. Desejava mas vivia se perguntando sobre o que poderia ter sido e não foi. Viu felicidade e tristeza, plenitude e desespero.

Eram sentimentos controversos que os uniam. Longa conversa em um momnto que ambos esbaldavam destruição, cortejavam a morte, cortejavam o fim de seus sofrimentos, inexplicáveis e inconciliáveis com a vida. Mais uma madrugada, quase manhã estavam, virtualmentel, frente a frente. Semelhantes que eram se estranhavam e se igualavam. Conversas únicas que ansiavam por se tornarem realidade.

Mas havia o desejo, parte constituinte dessa relação. O desejo era protagonista e recíproco como a antipatia existencial que compartilhavam. Houveram conversas intensas, quase eróticas, mais que eróticas, inexplicavelmente excitantes que instigavam um encontro real, o toque de carne.

Para se proteger de uma verdade latente ela marcara esse desejo de verdade absoluta, decide apostar no tudo ou nada. Ele ainda tinha o coração dominado por outro amor. Ela alimentava um vácuo dentro de si que poderia que engolir sua alma se não tomasse cuidado. Um convite negado, palavras muito duras. Condierou que era o fim de qualquer chance de qualquer coisa daquele quase nada.

Uma fala perdida na madrugada, ousadia, novas conversas pautadas no desejo da carne. Ele era forte, era intenso, mas haveria chance para um nada baseado só em desejo. Seria muito esforço para uma foda apenas? Ela gostava de achar que era uma foda apenas, era ilusão, era auto ilusão. Jamais seria só isso, jamais seria mais um dos insignificantes. Ele não queria ser um deles também, ainda que não soubesse de fato o que esperava, mas não era daqueles que buscava buracos vazios em mulheres tão vazias. Ela representava uma possibilidade muito maior, o que assustava e instigava, em partes iguais.

O desafio era vencer a distância. Agora era muito concreto, pastos e serras que os separavam. Mas eram livres, tão livres quando poderiam ser, já que tão presos em suas reflexõs eternas. Parecia que o problema era a distância, mas o medo de deixar outra pessoa adentrar em sua vida era lacerador. Para ambos.

Respirando fundo, lutando contra sua (in)sanidade ela buscava agora uma brecha, uma oportunidade para penetrar em sua vida. Mesmo que por uma noite. Mesmo que por um instante, ainda que anseie profundamente por algo muito maior. Pele com pele, boca com boca, sexo com sexo. Mais que isso: alma com alma.