segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Só o movimento é eterno, ou, crônica sobre meu road movie de baixo orçamento.

Subidas e descidas em mais uma de suas cidades desplanejadas e completamente diferente de todas as outras, num amanhecer arrasta-o-ponteiro-quase-até-o-branco. Suprimentos para este dia, para mais um último último dia em mais uma última última cidade que moraria.
Essa, como todas as outras casas que morara, não estava perfeitamente organizada. O seu estado de mudança era tão permanente que não lhe permitia mais arrumações definitivas e nem nada que fosse complicado demais de ser desfeito em uma madrugada, ou uma manhã e que pudesse ser transportado num carro pequeno.
No ano passado, mesma época do ano, tinha passado pela mesma coisa, a mesma e completamente diferente. Saiu retalhada de uma briga de espadas de uma cidade tão famosa por sua receptividade e nada amistosa. Era sempre assim, tudo era do avesso. O que lhe diziam podia facilmente ser entendido como contrário do que realmente é. Ou aindda o contrário disso, mas quase sempre a primeira hipótese. Tinha saído daquele não tão belo horizonte sem nada. Findo dinheiro, desabrigada, sem perspectivas, sem emprego, sem faculdade. Verdade que deixara um relacionamento para trás, mas certamente não era um amor, porque amor era outra coisa e amor demoraria pra ser fabricado por aquele coração esfarrapado de novo.
Partia em busca de qualquer coisa. Todos os motivos que imaginasse eram meras ilusões, mas ela sempre soube disso, gostava de brincar com as ilusões, ao contrário dos crentes, não via sentido na vida ou no destino além do sentido maior: sempre ter o melho roteiro. Era verdade, gostava de viver em um filme que nunca foi filmado. Aquele velho road movie de baixo orçamento que nunca lhe saia da cabeça e que trazia o encanto pra já desencantada e mórbida estrada eterna que são todas as estradas que percorreu sem fim durante tantos e tantos anos ou quase sua toda vida.
O que aconteceu durante esse ano não faz parte dessa história. Faz parte de tantas outras que ficaram pelo ar, sem serem contadas.
Um ano se passa e é hora de outra subida, descida, de outra cordilheira ser deixada para trás. Partir? Agora, tinha tudo. Não que sobrasse dinheiro, mas não lhe faltava ao ponto de realmente incomodar. Tinha, depois de percalços tragicômicos, matricula na tal da universidade federal. Tinha uma casa só sua, ainda que fosse uma miniatura era seu mundo. Era amada pela sua senhoria que lhe implorou que ficasse, veja só como as coisas mudam. Não tinha um amor, mas tinha um devir, na verdade, seu coração estava desperto e sua mente esperançosa pela possibilidade do que viria a ser aquele que tinha tirado seu coração permanentemente da inércia. Não era amor. Por ele, de certo, nem paixão. E por mais que tivesse o devir não era isso que poderia prendê-la a lugar algum.
Ainda assim, ao que tudo indicava, fechara-se o ciclo, finalmente. Era hora de planícies. Dizer adeus, au revoir, belas praias que jamais fora, lagoa que nunca tinha feito questão de mergulhar a fundo e todos aqueles ixixixix que só entenderiam os que já estiveram aqui.
Certeza? Nenhuma.
Tristeza? Também não. Nem alegria, nem a apatia.
O que te move, então?
A possibilidade....

domingo, 21 de fevereiro de 2010

A morte de um vulcão, ou, crônica sobre o intervalo.

Interludium
Se não escrevi mais não quer dizer que tenha passado todo esse tempo sem viver, passei foi muito tempo sem sentir.
A tal da corda bamba foi engrossando, pra cavalo, pra meio fio, pra estrada, pra autoban então, não tinha nada de intenso, nada de profundo, só caminhar em frente.
Nada de sedutor, nem nada de dislumbres. Nem ao menos dores ou mágoas profundas o suficientes para derremar lágrimas. Nem sorrisos que durassem até o dia seguinte.
Apatia?
Talvez, mas não aquela apatia doente da depressão, aquela apatia de olhos vazios que contemplam o abismo conformadas que o salto eminente.
Era um céu de seis da manhã, um claridade dúbia, serena, mas êfemera. E falsa.
Pode ser o que todos almejam, o caminho do meio, paz de espírito, whatever queiram chamar. Tão mainstream. So make sense.

Poderia ter continuado assim, por tempo indeterminado, e para alguns, talvez eu pudesse figir que era suficiente, que eu era feliz.

Pra mim?
Conformismo. E sou tudo, menos uma coformada...

Mesmo os furacões adormecidos voltam a vida e mesmo que eu tenha cimentado, trancafiado meu coração e com eles tudo de colorido e lúdico que eu sou, uma hora tudo iria transbordar.

E elas voltaram: os sorrisos que duram até o dia seguinte e as lágrimas que duram por uma semana. Conversas intensas e profundas com a minha mãe. Mudanças de rumo. Quebra de paradigmas. Tudo que faz de mim humana.

Tenho tantas histórias para contar e tão poucos ouvidos pronto pra elas. Tantos sonhos e tantas cores.
Abandonei o monocromático. Assumi o arco íris. O arco íris que vive em mim é o que transborda dos mundos inomináveis.
Voltei a ficar em dúvida.
Não há vida, sem dúvida.

E, entrementes, eu diria agora, pra parecer culta...

Por mais madura que eu seja, a grande lição é que eu sempre amarei como uma menina, porque meu coração ficou perdido no país das maravilhas. Junto com minha mente. E daí você pode entender onde tudo isso faz sentido.