segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Explosão de pensamentos compilados, expremidos e combinados.

Respire fundo, o cheiro ecoa pelas nossas almas. Ainda que pudéssemos fugir das imagens que se acumulam na memória por uma pequena eternidade, minha sinestesia lhe traria por inteiro cada vez que eu evocasse essa memória.
Não sei há quantas luas este cheiro me persegue, nem quantas madrugadas nesta ou em outras camas, minha memória olfativa conjurou-te.
Para além dos mais elaborados dos perfumes, para além de tudo que podemos notar com nosso pobre olfato humano, seu cheiro, de homem, de verdade, de desejo, se sobressai.
Se eu sempre tive a segurança dos meus atos e das minhas escolhas, meus instintos nunca negaram a verdade que tardamos a reconhecer: que nossos corpos foram moldados para se encaixar perfeitamente. Em todo e em cada um dos sentidos.
Do perfeito toque, em cada um dos meus dedos do pé, que se escondem dentro dos sapatos, espeando que você os descubra e beije cada um deles. Há quantos anos, inconscientemente, esses pés lhe foram dedicados?
E dos beijos, que se iniciam pelas palavras, que nunca terminam e nem se perdem e podem nos envolver por mil e uma noites e além. Beijos de bocas que se tocam, tentando devorar as almas, a essência e cada parte do que somos para então nos reconstruir, mais inteiros, mais perfeitos e felizes. Beijos de olhos, que se encaram frente a frente e mostram toda a verdade, os meus de uma transparência verde eterna. Os seus negros, iluminados. Apaixonados.
As mágoas, dores e porens. Os princípios, os recomeços e todos os fins. As conquistas, derrotas, lágrimas e risadas infinitas. Uma ode à chatice, um brinde à realidade. Eu sei, ambos poderíamos dizer, sempre estive lá. Sempre estivémos lá.
Nunca é tarde demais pra se ser feliz.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Geração zona oeste

Não somos filhos de hippies e nem somos yuppies. Nossa geração é um meio termo. Somos todas meninas, não há homens nessa geração. Crescemos cercadas de livros e sonhos como crianças um pouco diferentes da maioria, crianças inteligentes, talvez tímidas, ou feias, ou deslocadas por um motivo ou outro diante dos nossos coleguinhas de escola particular, de classe média ou alta.
Fomos adolescente rebeldes sem causa, como em tantas outras gerações. Bebemos demais, fingimos não petencer a uma tribo urbana qualquer na qual nos espelhamos. Abusamos de drogas, alguns menos, outros mais, mas sempre nos sobra algum trauma daquele tempo. Pregávamos a liberdade sexual. Da boca pra fora. Trepávamos, sem amor. Nem pelo outro, nem por nós mesmas. Algumas de nós carregam em sua história tristes abortos, quase todas. Casamos cedo, ou quase isso. Tinhamos mania de ser gente grande. Muito cultas, uma cultura inútil e que não sagrariaum caminho profissional. Aliás, profissão são muitas. Muitas e nenhuma. Somos artistas, das mais variadas áreas. Mesmo quando não somos artistas somos artistas, queremos ser artistas, somos aspirantes à artistas em nosso âmago.
Se, quando teen, éramos descoladas e frutos na noite, dos inte a dentro nos tornamos medrosas. Éramos adolscentes complicadas, agora adultos problema. Na verdade nunca deixamos de ser adolescentes complicadas, ainda que no idos inte e tantos algumas de nós tenham aprendido a fingir. Nossos relacionamentos estáveis são profundamente instáveis. Buscamos uma seguança que não aprendemos a ter.
Filhas de pais separados, se juntos ainda, eternamente infelizes, choramos no colo das madrastas e assistimos aos casamento de enteadas de nossos pais. Só não assistimos aos nossos próprios casamentos que são sufocados pela nossa ânsia de fugir da solidão.
Todas são de certa maneira perturbadas e criaram a própria ilusão para seguir com a vida, mentiras que são repetidas infinitas vezes nas madrugadas insones quando olhamos a cidade, eternamente cheia de luzes piscando através das janelas dos altos edifícios que vivemos e assistimos o mundo passar.
Não existe conforto possível, não há homens na nossa geração e nenhuma de nós, apesar de inúmeras tentativas, poderia amar uma mulher ou ser feliz ao lado de uma. Buscamos um príncipe encantado, que nunca virá. Eu já lhes disse, não há homens na nossa geração. Os nossos ex-coleguinhas de escolas se casaram com garotas platinadas e moldadas na academia, lá da parte nobre da zona sul, jamais serviriam pra nós.
É o que nos faz procurar novos horizontes. Mas não há consonância possível.
Tristes meninas da zona oeste, haverá salvação para suas almas, já que não há para os seus corações?

(sem correções)

domingo, 3 de outubro de 2010

Pequeno conto de infinicidades

Uma casa precisa ser pintada. Não há porque lutar contra isso. Ninguém quereria morar numa casa mal acabada. Essa casa precisa ser pintada. O tijolo, o cimento, as formas arquitetônicas rudes não podem ser percebidas. A casa precisa ser pintada. É áspero, violento. É verdadeiro demais. Faça o acabamento.

Preencha de ilusão e suavidade a cada passada de lixa que vai polindo e criando novas texturas, mais palatáveis. O vento lambe com suavidade, afastando a poeira de cimento, criando uma suave fumaça. Suave e desagradável, ligeiramente sufocante. A luta do cimento pra conservar suas próprias características. Resistindo ao encanto da possibilidade da farsa.

Não há escapatória, as mãos são forte, o pulmão resiste. Uma máscara protege as narinas e em pouco tempo sua verdade foi reinventada. A casa está perdida, já não há mais volta.

A violência tem traços suaves, seu sucesso vem de sua beleza e dos seus lábios bem delineados. Vem do brilho ancestral de seus olhos. Sua violência é arrebatadora. Não há nada que possa sobreviver ao seu toque. Nenhuma realidade.

As cores viscosas voam contra suas paredes maculadas. Ela é gelada, pegajosa. Se espalha tão rápido que nem é possível ter defesas. Como uma pele parasita com vida própria. São cores impuras, indesejadas. Pincéis e rolos, sendo esfregados seguidamente sobre sua carne dilacerada, unguento maligno apaga qualquer rastro de verdade que lhe havia restado.