domingo, 3 de outubro de 2010

Pequeno conto de infinicidades

Uma casa precisa ser pintada. Não há porque lutar contra isso. Ninguém quereria morar numa casa mal acabada. Essa casa precisa ser pintada. O tijolo, o cimento, as formas arquitetônicas rudes não podem ser percebidas. A casa precisa ser pintada. É áspero, violento. É verdadeiro demais. Faça o acabamento.

Preencha de ilusão e suavidade a cada passada de lixa que vai polindo e criando novas texturas, mais palatáveis. O vento lambe com suavidade, afastando a poeira de cimento, criando uma suave fumaça. Suave e desagradável, ligeiramente sufocante. A luta do cimento pra conservar suas próprias características. Resistindo ao encanto da possibilidade da farsa.

Não há escapatória, as mãos são forte, o pulmão resiste. Uma máscara protege as narinas e em pouco tempo sua verdade foi reinventada. A casa está perdida, já não há mais volta.

A violência tem traços suaves, seu sucesso vem de sua beleza e dos seus lábios bem delineados. Vem do brilho ancestral de seus olhos. Sua violência é arrebatadora. Não há nada que possa sobreviver ao seu toque. Nenhuma realidade.

As cores viscosas voam contra suas paredes maculadas. Ela é gelada, pegajosa. Se espalha tão rápido que nem é possível ter defesas. Como uma pele parasita com vida própria. São cores impuras, indesejadas. Pincéis e rolos, sendo esfregados seguidamente sobre sua carne dilacerada, unguento maligno apaga qualquer rastro de verdade que lhe havia restado.

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