quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Canção X
Angela Maria

Composição: Hilda Hilst / Zeca Baleiro

Se todas as tuas noites fossem minhas
Eu te daria, Dionísio, a cada dia
Uma pequena caixa de palavras
Coisa que me foi dada, sigilosa

E com a dádiva nas mãos tu poderias
Compor incendiado a tua canção
E fazer de mim mesma, melodia.

Se todos os teus dias fossem meus
Eu te daria, Dionísio, a cada noite
O meu tempo lunar, transfigurado e rubro
E agudo se faria o gozo teu.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Hábitos

Ainda não me acostumei com teu nome
Vou precisar dizê-lo mil vezes antes de me acostumar.

Ainda não me acostumei com sua voz
Quando me lembro dela parece que não se encaixa na minha vida.

Ainda não me acostumei com seu rosto
De fato, não consigo saber como é ao certo.

Já me acostumei com você, no meu coração
Na minha cabeça
Sendo gravado, pouco a pouco
Na minha alma.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Sou Sua
Adriana Calcanhotto

Composição: Péricles Cavalcanti

Sou sua luz
Sou sua cruz
Sou sua flor
Sou sua jura
Sou sua cura
Pro mal do amor
Sou sua meia
Sou sua sereia
Cheia de sol
Sou sua lua
Sua carne crua
Sobre o lençol
Sou sua Amélia
Sou sua Ofélia
Sou sua foz
Sou sua fonte
Sou sua ponte
pro além de nós
Sou sua chita
Sua criptonita
Sou sua Lois
Sou sua Jóia
Sou sua Nóia
Sua outra voz
Sou sua
Sou sua
Sou sua
Plenamente
Simplesmente

domingo, 21 de setembro de 2008

Nós dois, um a um

Quero a sombra de um sorriso
Sorrindo sobre meus lábios
Abertos.

Percorrer seu corpo com meu sorriso
Conhecer, cada pedaço.
Cirurgicamente
A textura
Da curva de seu joelho
E logo abaixo da sua nuca.

Olhos abertos, fechados, abertos
Olhos que sorriem
E brilham
E respiram
Felizes.

E deitar sobre seu peito
Sentir seu coração bater
Conhecer seu ritmo
Conhecer sua vida, por inteiro.
Ou quase...

Respirar os seus sentidos,
Inspirar seu cheiro.
Saber onde começa
Onde termina
Seu prazer.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Cortado no meio, na diagonal

Sanduiche de queijo e dias de chuva, duas coisas que apertam meu coração com força demais.
São mais de seis meses, e quantas vidas eu vivi nestes seis meses.
Estou curada, de todas as minhas paixões. Neste momento conheço o limite das paixões.
Acontece que não há limites para o amor e, caramba, chegando aos nove anos que você conquistou meu coração simplesmente dói demais pra suportar.
Sei muito pouco da sua vida, não é o que parece, jamais te persegui nem a ninguém. Sei que no fundo, atrás de toda a mágoa você sabe exatamente quem eu sou, que jamais quis teu mal. Que sofro a cada dia (e todos os dias) por sua ausência. Não é que eu acredite que temos que ficar juntos de novo, isso é muito confuso, porque eu sei que talvez alguns problemas sejam insuperáveis. Mas, incrível dizer isso, vejo que vamos crescendo e evoluindo e chegando as mesmas conclusões sobre a vida. Quem sabe o futuro nos traga um futuro, juntos? Quem sabe nunca mais, quem somos nós pra saber?
Talvez eu só seja mais sincera com meu coração do que você, e mais sincera comigo. Tendo passado estes seis meses, continuo negando sistematicamente todos os pedidos de namoro que recebo. As vezes decido dar um basta, aceitar o próximo pedido, porque ficar sozinha dói, dói mais que a morte! No entanto, eu não posso, jamais poderia me enganar com você se engana, de colocar na minha vida alguém que eu não amo, pra suprir minha carência, para me enganar. Eu sou verdadeira demais comigo, isso é fato. Talvez meu futuro seja a solidão. Talvez eu aprenda a lidar com isso. Talvez todos os dias chuvosos, ao comer sanduiche de queijo eu me lembre de você, olhe pro meu colchão e me veja sozinha, dormindo sozinha há tempos e me lembre de você, e escorrar uma, algumas lágrimas. Tenho conseguido novamente chorar, e isso me faz bem. E talvez, só talvez, os meses sigam se multiplicando e em algum lugar no futuro nossas vidas possam se encontrar, pra sempre. Como você me disse várias vezes.
Só talvez...

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Eis um poeta que me entende, mudando o gênero...

Procuro uma mulher

-Ulisses Tavares


A mulher que procuro é tão simples e tão básica como eu.

Ela só quer que não lhe toquem nas feridas da alma mais do que o mundo já faz.

Deseja colo e aconchego essa mulher.

Mas nunca que os dedos leves que lhe fazem cafuné se aproveitem para lhe apertar, pesados, a garganta com cobranças e compromissos impossíveis.

Aceita críticas e correções. Desde que não estraguem as horas plenas do prazer, da descontração, da entrega quando está bem acompanhada. E essas são 24 horas por dia. Mesmo que durem apenas minutos.

É uma mulher estranha, diferente, única. O fato de ser rotineira, igual e previsível, ora, é um detalhe irrelevante. Ela se reflete, e acredita, na imagem que vê num espelho mágico. Se o espelho quebrar não conseguirá juntar os caquinhos.

Independente. Totalmente.

Irrestritamente. Não precisa do outro pra nada. Nem pra trocar lâmpada ou consertar chuveiro ou arrumar emprego de bom salário. Ela se basta e pronto. E ponto. Mas não ponto final. Três pontinhos, reticências... Vai que alguém lhe alivie o fardo... que lhe tire o dardo cravado no sonho e no cheque especial. Esse alguém não existe, se diz ajustando o despertador para mais um dia de problemas.

Na falta de um homem, ideal, pega outro, menos mal. Até que o mala cresce e aparece e é trocado pelo menos pior. Antes mal acompanhada do que sozinha consigo mesma. Meio cansada de só ficar para não ficar só.

Ah, essa mulher que procuro tem muitas teorias bonitas sobre as relações sentimentais. A prática, porém, a faz tropeçar e chorar feio.

Resolve o mundo fácil. Ela, porém, é um mundo indecifrável. Talvez um corpo de galã com uma cabeça de gênio lhe traga a resposta. Serve separado, corpo de gênio e cabeça de galã nas madrugadas insones.

A mulher que procuro sou eu de saias. Por isso nunca encontro. E, quando encontro, saio correndo, de medo.