sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Eis um poeta que me entende, mudando o gênero...

Procuro uma mulher

-Ulisses Tavares


A mulher que procuro é tão simples e tão básica como eu.

Ela só quer que não lhe toquem nas feridas da alma mais do que o mundo já faz.

Deseja colo e aconchego essa mulher.

Mas nunca que os dedos leves que lhe fazem cafuné se aproveitem para lhe apertar, pesados, a garganta com cobranças e compromissos impossíveis.

Aceita críticas e correções. Desde que não estraguem as horas plenas do prazer, da descontração, da entrega quando está bem acompanhada. E essas são 24 horas por dia. Mesmo que durem apenas minutos.

É uma mulher estranha, diferente, única. O fato de ser rotineira, igual e previsível, ora, é um detalhe irrelevante. Ela se reflete, e acredita, na imagem que vê num espelho mágico. Se o espelho quebrar não conseguirá juntar os caquinhos.

Independente. Totalmente.

Irrestritamente. Não precisa do outro pra nada. Nem pra trocar lâmpada ou consertar chuveiro ou arrumar emprego de bom salário. Ela se basta e pronto. E ponto. Mas não ponto final. Três pontinhos, reticências... Vai que alguém lhe alivie o fardo... que lhe tire o dardo cravado no sonho e no cheque especial. Esse alguém não existe, se diz ajustando o despertador para mais um dia de problemas.

Na falta de um homem, ideal, pega outro, menos mal. Até que o mala cresce e aparece e é trocado pelo menos pior. Antes mal acompanhada do que sozinha consigo mesma. Meio cansada de só ficar para não ficar só.

Ah, essa mulher que procuro tem muitas teorias bonitas sobre as relações sentimentais. A prática, porém, a faz tropeçar e chorar feio.

Resolve o mundo fácil. Ela, porém, é um mundo indecifrável. Talvez um corpo de galã com uma cabeça de gênio lhe traga a resposta. Serve separado, corpo de gênio e cabeça de galã nas madrugadas insones.

A mulher que procuro sou eu de saias. Por isso nunca encontro. E, quando encontro, saio correndo, de medo.

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