sexta-feira, 27 de julho de 2007

Morada Terrestre

Jorge Carrera Andrade, tradução de Manuel Bandeira

Habito um castelo de cartas,
Uma casa de areia, um edifício no ar,
E passo os minutos esperando
O desmoronamento do muro, a chegada do raio,
O correio celeste com a última notícia,
A sentença que voa numa vespa,
A ordem como um látego de sangue
Dispersando ao vento uma cinza de anjos.
Então perderei minha morada terrestre
E me encontrarei nu novamente.
Os peixes, os astros,
Remontarão o curso de seus céus inversos.
Tudo que é cor, pássaro ou nome,
Volverá a ser apenas um punhado de noite,
E sobre os despojos de cifras e plumas
E o corpo do amor, feito fruta e música,
Baixará por fim, como sonhos ou a sombra,
O pó sem memória.

Um momento...

... de poesias de verdade.

terça-feira, 24 de julho de 2007

7 cidades

Dois saltos além da última cerca, me sinto escória.
Perdida entre meus erros, meus acertos e culpas que não me pertenvem cai sobre mim, cada tonelada, de uma madrugada vazia.
Na rua a cada hora passa um táxi, com passageiro, alguém que se perdeu pela noite, busca o aconchego de casa.
Olhando para todos os lados, me sinto sufocada, vazia, como se todo o sentido deixasse de existir em si mesmo e nada mais na Terra existisse além da solidão e do vazio.
Teria o mundo acabado? Eu sobrei, eu e minhas ilusões, meus sonhos, minhas dores.
Eu, que não sou nada além de ilusões, de sonhos, de dores.
Sonhos despedaçados, ainda que reais, perenes.
O grande amor é uma ilusão confortável, para os pecadores, material.
O grande amor peca.
O sonhador crê.
E continua a caminhar pelos novos terrenos desconhecidos, na ilusão de encontrar respostas pra os erros que não são seus.
Os erros, meu caro sonhador-pecador, não são seus.
E são erros, nada mais que isso.
Ainda que não possam ser deletados como imagens do passado que permanecem em sua vida contra sua vontade, eles não são seus.
o perdão é uma escolha.
Mais que uma escolha, o perdão requer sacrifício, e nem todo sacríficio que você possa fazer invocará o verdadeiro perdão.
Certas feridas são para sempre.
Certas férias são eternas.
Certos amores são frágeis, perenes.
São ilusões, simples, como todas as cidades.
Tdas as cidades carregam em si a mesma cidade.
Ainda que eu caminhe por cada uma delas me encontro infinitamente perdida dentro de mim.
Meu medo se espalha.
A solidão de existir, ainda que nada mais exista dói quase tanto quanto o perdão concedido a força...
Busco na nova cidade algo de mim que perdi...
A cada passo percebo,
aos poucos
que nada isso nunca existiu.
A única realidade no mundo são as escolhas.