sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Retratos da solidão

Uma leve camada de pelos cobre todo o chão da casa, tal qual algum tipo de bruma que não pertence a esse lugar.
A sala está abandonada, a não ser pelo sentar e levantar diário da minha bolsa nada nela se move.
Os gatos se movem por todas as partes, entre 4 e 7 da manhã.
Detestáveis sacolas de plástico se amontoam na mesa da sala.
Mais pelo.
Na mesa da cozinha amontoam-se pratos sei-usado, copos com restos resequidos de algum prazer infantil líquido e montanhas de embalagens de comida congelada.
O banheiro dos gatos exala seu cheiro específico.
O banheiro dos humanos também.
No computador livros técnicos, canecas, latas, garrafas, retratos de noites passadas nesta sala em busca de um futuro.
No quarto lingerie no chão, usadas. Marcas de uma calorosa despedida. Meias no chão usadas. Marca de suas manias.
Na cama o lençol quase amarrotado, o edredom que se joga de um lado pro outro. Metade da cama eu ocupo. Na outra metade uma pilha de livros e uma companhia sexual morta. Um rato de pelúcia. Um espaço vazio onde dorme o gato.
Essas montanhas vão aumentando conforme se alongam os dias de espera.
E, no fundo, sei que até delas você sente falta.
Quanto a mim, sinto falta de tudo. Sinto falta de mim mesma. Quando você partiu, me perdi.

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